Literatura

A literatura japonesa cobre um grande período, de quase dois milénios. Antigamente, no inicio deste período, a literatura japonesa caracterizava-se por ter uma grande influência chinesa, o que a leva a adoptar o tipo de escrita da China para transcrever a língua japonesa radicalmente diferente. A mais antiga e conhecida obra japonesa tem como nome “Kojiki” (712 d.C.), este é um livro de uma história universal, cheio de relatos fantásticos e fragmentos líricos e, uma das mais admiráveis colectâneas poéticas da primitiva poesia do Japão é “A Colecção de Dez Mil Folhas”.

A literatura clássica japonesa atinge o seu auge durante o período Heian (séc. VIII a séc. XII). O género de maior desenvolvimento, a prosa, teve como suas maiores obras “Os relatos de Ise” do escritor Ariwarano Narihina e o “Conto Genji” da escritora Murasaki Shikibu. No período Muromachi (1333 – 1600), o teatro japonês alcança o seu cume com o “Nô”, estilo de peça extremamente convencional às tradições japonesas, na qual os gestos do actor determinam o desenvolvimento
da obra.

A poesia japonesa tradicional japonesa vai-se desenvolvendo, sendo ela composta por poemas muito pequenos, de carácter metafórico e uma estrutura cheia de artifícios, entre os melhores poetas japoneses temos Yosa Busion (1716 – 1781) e Kobaiashi Issa (1736 – 1781). No século XX, o Japão recebeu uma rápida influência ocidental, que levou à substituição da sociedade feudal por uma grande potência mundial, contudo a literatura japonesa também sofreu com a abertura para ocidente, deixando de ser contemporânea, excepto a poesia que, ainda hoje, mantém os estilos tradicionais. Assim, a nova geração literária do século XX reflete uma clara influência ocidental.


Na história da literatura podemos destacar o famoso escritor e poeta japonês do período pós-guerra Kazuo Dan. Este viveu na Praia de Santa Cruz, no concelho de Torres Vedras, durante um ano e quatro meses, inicialmente, previa ficar apenas meio ano mas como se adaptou muito bem a esta região decidiu ficar por mais algum tempo. A razão pela qual Kazuo Dan escolhera a Praia de Santa Cruz como local ideal foi o facto e esta permitir a mais íntima interacção entre ele próprio e o céu e a terra, tudo com o som do mar de fundo, tal como escreveu o autor “Para isso, a Praia de Santa Cruz era perfeita, sem igual. (…) Os raios solares reluziam incansavelmente no alto da minha fronte e, a meus pés, havia sempre o mar a desenhar as suas estampas onduladas.”

Este escritor, após o traumático divórcio dos pais, com seis anos de idade, tornou-se uma criança solitária, cujo coração apenas encontrava consolo, por um lado, nos passeios pela natureza, que normalmente dava por Santa Cruz; e, por outro lado, no contacto com as pessoas simples de Yanagawa, onde os seus avós viviam.


Kazuo Dan iniciou cedo a sua actividade literária, publicando desde os seus dezasseis anos no Liceu de Fukuoka, depois, em 1932, o escritor passou a frequentar a Universidade de Tóquio mas, embora se tenha formado em Economia, passou aqueles anos a ler e a escrever. Entre a publicação de romances e poesias, viajou pelo Japão, pela Europa, pelos Estados Unidos, China, URSS, Austrália e Nova Zelândia. Visitou Portugal no ano de 1970 e a sua relação com a Praia de Santa Cruz foi tão boa que decidiu alugar uma casa abandonada, que considerava o seu palácio e que pode ser visitada na rua que hoje tem o seu nome, Rua Kazuo Dan, nº 6.

O escritor passava os seus dias em Santa Cruz a fazer os seus longos passeios junto ao mar, a tratar das plantas do seu quintal e a apreciar o pôr-do-sol, que era a sua maior paixão, tal como ele dizia “O que há de realmente esplêndido lá é o poente”.

Ao rumar ao Japão, na véspera do seu 60º aniversário, no dia 2 de Fevereiro de 1972, ia com esperança de voltar a Portugal. No entanto, durante uma das suas viagens à Coreia e a Taiwan, sentiu-se mal do fígado, retirou-se do bulício de Tóquio e procurou refúgio na sua ilha natal, Kyushu. Num dia do mês de Junho de 1975, sentiu uma dor aguda nas costas e foi hospitalizado, já suspeitava que sofria de cancro, cuja causa terá sido o seu vício do vinho. Então, apressou-se a acabar a sua obra e, durante dez dias seguidos, ditou aquele que viria a ser o romance “O Homem das Paixões”, que tinha começado a escrever em Santa Cruz. Kazuo Dan acabou por falecer, aos sessenta e três anos, no dia 2 de Janeiro de 1976, sem ter conseguido realizar o seu último desejo, o de regressar à pequena aldeia portuguesa.

Os seus amigos, para deixar a memória de Kazuo Dan em Santa Cruz, decidiram implantar um monumento ao escritor, no dia 2 de Janeiro de 1992. Na parte posterior do mesmo, encontra-se gravado um poema que este escreveu sobre o sol poente, em Santa Cruz:

 

Em japonês:

“Rakujitsu wo

Hirohini yukamu

Umi no hate”

Em português:

“Belo sol poente!

Ah! Pudesse eu ir buscar-te

Lá ao fim do mar!”